Cheguei a casa, de madrugada, arrastando-me por entre a neblina que vislumbro com os olhos e o naufrágio de uma noite interminável por ruas húmidas. Encontrei a minha mãe a dormir no sofá da sala com uma manta por cima das pernas e o jogo de tricotar encostado às suas mãos. Observei-a em silêncio. Tinha o cabelo grisalho, e a pele do rosto começara a perder a firmeza em volta dos pómulos. Contemplei aquela mulher que em tempos tinha imaginado forte, quase invencível, e vi-a frágil, derrotada sem ela saber. Derrotados porventura os dois. Inclinei-me para a cobrir com aquela manta e beijei-lhe a testa como se quisesse protege-la assim dos fios invisíveis que a afastam de mim e das minhas recordações, como se acreditasse que com aquele beijo podia enganar o tempo e convencê-la a passar de largo, a voltar outro dia, outra vida.
Bonito momento...bonito sentimento de filho. Que guardes e prezes sempre esse carinho e essa relação.
ResponderEliminarO tempo não podes enganar, mas podes aproveitar cada segundo, cada tricotar, cada derrota do sono no sofá.