Sentado, de olhos postos na janela, a vidraça que me separa do exterior, agarrado aqui me encontro, preso por uma panóplia de fios, ligações que me trazem o exterior até à membrana auditiva. Fixo o ponto comum do edíficio da frente, fustigado pela chuva interminável do inverno que passou, fixamente, no meu próprio mundo, sinto o movimento do prédio, como se pernas ganhasse, estará a minha mente a pregar me partidas? Ou será este um sinal do avançar das horas, horas essas que passo aqui sentado, de olhar penetrado nesse ponto, com o movimento da passagem do sol que hoje brilha bem alto e eu cá dentro com o mundo a passar lá fora. Separado pela vidraça, sinto que afinal, o edíficio, esse sim, me olha de soslaio fixamente, sou eu que aqui fustigado pelo passar do tempo não me movo, horas e horas parado a olhar o exterior, a olhar o prédio que me olha de volta. Somos idênticos, parados, imóveis, desamparados do tempo, que se ri de nós enquanto viaja e navega por esse mundo fora enquanto eu aqui invejo a sua mobilidade banhado pela luz do sol, criando a descrepancia entre ele, eu e o mundo. Um movimento, um piscar de olhos, e entendo, não mais existe luz, o sol caiu, elevando o meu sorriso qual balança de emoções, levanto-me, caindo qualquer ligação que prendesse na soma dos minutos entediantes igualando o vasto horário da parte de dentro da muralha de vidro. Agora sim, eu explorando o mundo, despeço-me do edíficio que me acompanhou e rio-me do vazio, do tempo que desapareceu, não mais que uma partida da mente qual controlador do tempo, para, num piscar de olhos, me aperceber que, novamente atraiçoado por esse magnata, o sol já brilha alto, e e eu aqui estou, novamente enquadrado na cadeira, a olhar fixamente o edíficio. O mundo exterior possui uma apetência de tal forma, que me consome o tempo de tal maneira imprudente que me perco nas suas manhas, direccionado para a cadeira do dia a dia, nesta jaula de vidro que me protege do tempo, num castigo interminável, devagar, sem pressas, sou eu que sou o alvo dos olhares exteriores qual estátua enferrujada esbofeteado pelo tempo, O tempo, infinito do próprio tempo.
Brilhante!
ResponderEliminarDescreve perfeitamente aquelas que são as 8 horas árduas de trabalho nesse edíficio, sempre acompanhado do headset. É impressionante como tornas tão bonito um texto que acaba por se revelar triste, na medida em que descreves o teu eu enjaulado, aprisionado, dependente do ponteiro das horas. Das 11-20h estás tu dentro do relógio, a andar devagarinho, a sufocar a cada segundo que passa.
O que conforta, creio eu, são os laços que crias e o empenho que tens todos os dias!
You're a great worker!!
Pendurado no ponteiro do tempo, num qualquer relógio de bolso, são precisamente esses mesmos laços que, pendurados como eu, me ajudam e dão força ao ponteiro para andar mais depressa ;)
EliminarObrigado! *